Este sítio vai chamar-se “Pátio Serafim”.

Serafim é um nome antigo, de um homem ilustre, sempre presente na vida do nosso avô António Palha. Serafim Cruz, conhecido por Serafim Batata, era cocheiro, tinha mão firme. Um homem alto, forte, sorriso aberto e uma simpatia contagiante. A farda, de cotim cinzento, o chamado Cotim Militar, imaculada, arranjada a preceito.

Ao alvorar das quartas-feiras, engatava a parelha de cavalos -o Francês e o Margiochi- e vinha buscar o seu patrão aqui a sua casa na Quinta das Areias, para o levar a visitar as suas propriedades agrícolas: dois dias de campo, começando pelo Paul da Vala. Era o nosso avô que saía a guiar a parelha, trotavam até ao cais e atravessavam o Tejo, num grande batelão que por lá estava ancorado. O avô e o Serafim eram os últimos a embarcar. Subindo a jangada mantinham-se no topo do carro, nunca deixando as rédeas de comando! Homens destemidos, aqueles dois!

Já na outra margem, dizia-lhe o avô:

“Muda o governo Serafim!”. E os cavalos pela mão leve do dono, lá seguiam em marcha rápida: demoravam cerca de meia hora até ao Paul da Vala, uma propriedade agrícola nas vizinhanças de Alcochete. Devia ser bonito de se ver: o nosso avô e o imponente cocheiro numa bela parelha engatada, ágil, percorrendo o caminho de terra batida, em passos largos e cadenciados! À chegada davam a volta ao campo para observar as terras e acompanhar trabalhos e, ao cair do sol, jantavam um maravilhoso arroz da cabidela e recolhiam-se. No dia seguinte, bem cedo, partiam rumo à Quinta da Foz, perto de Benavente. Na Foz a volta à Casa Agrícola era bem diferente: havia mais trabalho na lezíria e maior rendimento. Cumprido o segundo dia, o avô e o Serafim, sempre vigilante e parceiro, regressavam a casa. Quase sempre iam e voltavam sozinhos, mas não havia nenhuma criança da família, que não sonhasse acompanhá-los naquela aventura!

Fosse qual fosse a estação do ano, semana após semana, cumpria-se o passeio como um ritual litúrgico, vencendo todas as contrariedades: chuvas e lamas no inverno, gafanhotos e flores silvestres na primavera, verões quentes e abafados em que a água do rio tanto refrescava os cavalos. E por fim chegava o Outono, feito de dias ainda longos e amenos a inspirarem poesia. Grande companheiro o Serafim, grande amigo do nosso avô António Palha! Confio que o Pátio Serafim se encha de gente amiga, que vibre e seja cúmplice da Alma Ribatejana, e dê continuidade à história desta casa.


Março 2022.

Madalena R. Telles